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mardi 31 janvier 2017

« Je trahirai demain » de Marianne Cohn

      Em momentos onde o fascismo e a xenofobia aparecem aumentar, é preciso lembrar do passado e dos poetas para evitar que os mesmos erros sejam cometidos.
Marianne Cohn (1922-1944)

      Marianne Cohn (1922-1944), alemã exilada na França quando jovem por conta do Nazismo, foi uma poeta e militante da resistência na França. Ela fazia parte do grupo MJS (movimento da juventude sionista), onde ela atuava ajudando a passar crianças judias da França ocupada pelos nazistas para à Suíça. Ela salvou muitas crianças, realizando várias viagens, porém, infelizmente, numa das viagens ela foi denunciada e, em seguida, capturada pelos nazistas que a torturaram. Mesmo sob tortura ela não dedurou ninguém, apesar do medo que tinha de trair, como testemunha seu forte poema intitulado "Eu trairei amanhã". 
     Ela foi assassinada a pontapés e golpes de pá pelos oficiais da Gestapo em 1944, quanto tinha somente 22 anos.





« Je trahirai demain »

Je trahirai demain pas aujourd’hui.
Aujourd’hui, arrachez-moi les ongles,
Je ne trahirai pas.

Vous ne savez pas le bout de mon courage.
Moi je sais.
Vous êtes cinq mains dures avec des bagues.
Vous avez aux pieds des chaussures
Avec des clous.

Je trahirai demain, pas aujourd’hui,
Demain.
Il me faut la nuit pour me résoudre,
Il ne faut pas moins d’une nuit
Pour renier, pour abjurer, pour trahir.

Pour renier mes amis,
Pour abjurer le pain et le vin,
Pour trahir la vie,
Pour mourir.

Je trahirai demain, pas aujourd’hui.
La lime est sous le carreau,
La lime n’est pas pour le barreau,
La lime n’est pas pour le bourreau,
La lime est pour mon poignet.

Aujourd’hui je n’ai rien à dire,
Je trahirai demain.



Marianne Cohn, 1943


Tradução livre / traduction libre de Priscila Junglos


Eu trairei amanhã


Eu trairei amanhã, não hoje.
Hoje, arranquem-me as unhas,
Eu não trairei.

Vocês não sabem o limite da minha coragem.
Eu, eu sei.
Vocês são cinco mãos duras com anéis.
Vocês têm nos pés sapatos
Com pregos. 

Eu trairei amanhã, não hoje,
Amanhã.
É-me necessária uma noite para me decidir,
Não menos de uma noite
Para renegar, para abjurar, para trair.

Para renegar meus amigos,
Para abjurar o pão e o vinho,
Para trair a vida,
Para morrer.

Eu trairei amanhã, não hoje.
A lima está no ladrilho,
A lima não é para a barra,
A lima não é para o carrasco,
A lima é para meu punho.

Hoje eu não tenho nada a dizer,
Eu trairei amanhã.



Marianne Cohn, 1943