Paul Éluard, comme toujours - fort, simple et précis.
Paul Éluard, como sempre - forte, simples e certeiro.
La puissance de l’espoir
Autant parler pour avouer mon sort :
Je n’ai rien mien, on m’a dépossédé
Et les chemins où je finirai mort
Je les parcours en esclave courbé ;
Seule ma peine est ma propriété :
Larmes, sueurs et le plus dur effort.
Je ne suis plus qu’un objet de pitié
Sinon de honte aux yeux d’un monde fort.
J’ai de manger et de boire l’envie
Autant qu’un autre à en perdre la tête ;
J’ai de dormir l’ardente nostalgie :
Dans la chaleur, sans fin, comme une bête.
Je dors peu, ne fais jamais la fête,
Jamais ne baise une femme jolie ;
Pourtant mon cœur, vide, point ne s’arrête,
Malgré douleur mon cœur point ne dévie.
J’aurais pu rire, ivre de mon caprice.
L’aurore en moi pouvait creuser son nid
Et rayonner, subtile et protectrice,
Sur mes semblables qui auraient fleuri.
N’ayez pitié, si vous avez choisi
D’être bornés et d’être sans justice :
Un jour viendra où je serai parmi
Les constructeurs d’un vivant édifice,
La foule immense où l’homme est un ami.
3 novembre 1946
Traduction / Tradução de Priscila Junglos
O poder da esperança
Preferível falar para confessar minha sorte:
Eu não tenho nada de meu, desapropriaram-me
E os caminhos onde eu acabarei morto
Eu os percorro como um escravo curvado;
Somente minha pena é minha propriedade:
Lágrimas, suores e o mais duro esforço.
Eu não sou nada além do que um motivo de piedade
Senão de vergonha aos olhos de um mundo forte.
De comer e de beber eu tenho vontade
Tanto quanto um outro, até por isso perder a cabeça;
Eu tenho de dormir a ardente nostalgia:
No calor, sem fim, como um animal.
Eu durmo pouco, nunca comemoro nada.
Nunca transo com uma mulher bonita;
Porém meu coração, vazio, de jeito nenhum para
Apesar da dor meu coração de jeito nenhum se desvia.
Eu poderia ter rido, ébrio de meu capricho.
A aurora em mim poderia fazer seu ninho
E raiar, sutil e protetora,
Sobre meus semelhantes que teriam florescido.
Não tenham piedade, se vocês escolheram
Serem limitados e serem sem justiça:
Um dia virá onde eu estarei entre
Os construtores de um vivo edifício,
A multidão imensa onde o homem é um amigo.
3 de novembro de 1946
3 de novembro de 1946