(Loto critique)
Nous avons tout mélangé
c’est un fait
Nous avons profité du jour de la Pentecôte pour accrocher les œufs de
Pâques de la Saint-Barthélemy dans l’arbre de Noël du Quatorze
Juillet
Cela a fait mauvais effet
Les œufs étaient trop rouges
La colombe s’est sauvée
Nous avons tout mélangé
c’est un fait
Les jours avec les années les désirs avec les regrets et le lait avec le café
Dans le mois de Marie paraît-il le plus beau nous avons placé le Vendredi
treize et le Grand Dimanche des Chameaux le jour de la mort de
Louis XVI l’Année terrible l’Heure du berger et cinq minutes d’arrêt
buffet.
Et nous avons ajouté sans rime ni raison sans ruines ni maisons sans
usines et sans prisons la grande semaine des quarante heures et celle
des quatre jeudis
Et une minute de vacarme s’il vous plaît
Une minute de cris de joie de chansons de rires et de bruits et de longues
nuits pour dormir en hiver avec des heures supplémentaires pour
rêver qu’on est en été et de longs jours pour faire l’amour et des
rivières pour nous baigner de grands soleils pour nous sécher
Nous avons perdu notre temps
c’est un fait
mais c’était un si mauvais temps
Nous avons avancé la pendule
nous avons arraché les feuilles mortes du calendrier
Mais nous n’avons pas sonné aux portes
c’est un fait
Nous avons seulement glissé sur la rampe de l’escalier
Nous avons parlé de jardins suspendus
vous en étiez déjà aux forteresses volantes
et vous allez plus vite pour raser une ville que le petit barbier pour raser
son village un dimanche matin
Ruines en vingt-quatre heures
le teinturier lui-même en meurt
Comment voulez-vous qu’on prenne le deuil.
Août 1940, Jurançon.
Poème du livre "La Pluie et le Beau Temps"
Tradução /traduction de Priscila Junglos
CONFISSÃO PÚBLICA
(Loto crítica)
Nós misturamos tudo
é um fato
Nós aproveitamos o dia de Pentecoste para pendurar os ovos de
Páscoa da
Saint-Barthélemy¹ na árvore de Natal do Quatorze de
Julho²
Isso foi de mal gosto
Os ovos eram vermelhos demais
A pomba fugiu
Nós misturamos tudo
é um fato
Os dias com os anos os desejos com os arrependimentos e o leite com o café
No mês de Maria que parece que é o mais belo nós colocamos a Sexta-feira
treize e o Grande Domingo dos Camelos o dia da morte de
Luís
XVI o ano terrível³ a Hora do pastor o cinco minutos de parada para o
lanche
E nós acrescentamos sem rima nem razão* sem ruínas nem casas sem
usinas e sem prisões a grande semana das quarenta horas4 e essa
das quatro quintas 5
E um minuto de barulho por favor
Um minuto de gritos de alegria de canções de risos e de barulhos e de longas
noite para dormir no inverno com horas extras para
sonhar que estamos no verão e de longos dias para fazer amor e
rios para nos banharmos de grandes sóis para nos secarmos
Nós perdemos nosso tempo
é um fato
mas era um tempo tão ruim
Nós adiantamos o relógio
nós arrancamos as folhas mortas do calendário
Mas nós não batemos nas portas
é um fato
Nós somente deslizamos no corrimão da escala
Nós falamos de jardins suspensos
Você já estava nas fortalezas voadoras
e você vai mais rápido raspar** uma cidade que o pequeno barbeiro para raspar** [a população de]
seu vilarejo num domingo de manhã
Ruínas em vinte quatro horas
até mesmo o tintureiro morre assim
Como você espera que nós fiquemos de luto.
Agosto, 1940, Jurançon.
Poema do livro "La Pluie et le Beau Temps" [A chuve e o tempo bom]
Notas da tradutora:
1. A noite de Saint Bartelemy (24 de agosto de 1572) foi uma das datas da guerra religiosa (Reforma e Contrarreforma), a de um massacre de protestantes a mando dos reis da França, estes católicos.
2. Festa da Federação, onde comemora-se a Revolução Francesa.
3. L'Année Terrible (1871) é um poema de Victor Hugo, onde ele comenta um terrível ano para a França, ano da guerra contra a Prússia e de uma guerra cívil em Paris, a Comuna de Paris.
4. Semana de 40 horas trabalhistas (na época do poema essa era a carga horária oficial da legislação na França).
5. Quatro quintas do mês: no sistema escolar francês, até 1972, as quintas-feiras eram dias sem aula; hoje esse dia é a quarta-feira.
* "Sans rime ni raison": expressão popular que significa falar/fazer/ser uma coisa incompreensível, sem sentido.
** "Raser" ["barbear" ou "depilar"] em francês é um verbo que serve também para dizer "arrasar" uma cidade (invadir, saquear e queimar).