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vendredi 1 janvier 2021

CONFESSION PUBLIQUE - Jacques Prévert

CONFESSION PUBLIQUE 
(Loto critique) 


Nous avons tout mélangé 
c’est un fait 
Nous avons profité du jour de la Pentecôte pour accrocher les œufs de 
    Pâques de la Saint-Barthélemy dans l’arbre de Noël du Quatorze 
    Juillet 
Cela a fait mauvais effet 
Les œufs étaient trop rouges 
La colombe s’est sauvée 
Nous avons tout mélangé 
c’est un fait 
Les jours avec les années les désirs avec les regrets et le lait avec le café 
Dans le mois de Marie paraît-il le plus beau nous avons placé le Vendredi 
    treize et le Grand Dimanche des Chameaux le jour de la mort de 
    Louis XVI l’Année terrible l’Heure du berger et cinq minutes d’arrêt 
    buffet. 
Et nous avons ajouté sans rime ni raison sans ruines ni maisons sans 
   usines et sans prisons la grande semaine des quarante heures et celle 
   des quatre jeudis 
Et une minute de vacarme s’il vous plaît 
Une minute de cris de joie de chansons de rires et de bruits et de longues 
    nuits pour dormir en hiver avec des heures supplémentaires pour 
    rêver qu’on est en été et de longs jours pour faire l’amour et des 
    rivières pour nous baigner de grands soleils pour nous sécher 
Nous avons perdu notre temps 
c’est un fait 
mais c’était un si mauvais temps 
Nous avons avancé la pendule 
nous avons arraché les feuilles mortes du calendrier 
Mais nous n’avons pas sonné aux portes 
c’est un fait 
Nous avons seulement glissé sur la rampe de l’escalier
Nous avons parlé de jardins suspendus 
vous en étiez déjà aux forteresses volantes 
et vous allez plus vite pour raser une ville que le petit barbier pour raser 
    son village un dimanche matin 
Ruines en vingt-quatre heures 
le teinturier lui-même en meurt 
Comment voulez-vous qu’on prenne le deuil. 


Août 1940, Jurançon.




Poème du livre "La Pluie et le Beau Temps"


Tradução /traduction de Priscila Junglos


CONFISSÃO PÚBLICA
(Loto crítica)

Nós misturamos tudo
é um fato
Nós aproveitamos o dia de Pentecoste para pendurar os ovos de
    Páscoa da Saint-Barthélemy¹ na árvore de Natal do Quatorze de
    Julho²
Isso foi de mal gosto
Os ovos eram vermelhos demais
A pomba fugiu
Nós misturamos tudo
é um fato
Os dias com os anos os desejos com os arrependimentos e o leite com o café
No mês de Maria que parece que é o mais belo nós colocamos a Sexta-feira
    treize e o Grande Domingo dos Camelos o dia da morte de
    Luís  XVI o ano terrível³ a Hora do pastor o cinco minutos de parada para o
lanche
E nós acrescentamos sem rima nem razão* sem ruínas nem casas sem
   usinas e sem prisões a grande semana das quarenta horas4 e essa 
   das quatro quintas 5
E um minuto de barulho por favor
Um minuto de gritos de alegria de canções de risos e de barulhos e de longas
   noite para dormir no inverno com horas extras para
   sonhar que estamos no verão e de longos dias para fazer amor e
   rios para nos banharmos de grandes sóis para nos secarmos
Nós perdemos nosso tempo
é um fato
mas era um tempo tão ruim
Nós adiantamos o relógio
nós arrancamos as folhas mortas do calendário
Mas nós não batemos nas portas
é um fato
Nós somente deslizamos no corrimão da escala
Nós falamos de jardins suspensos 
Você já estava nas fortalezas voadoras
e você vai mais rápido raspar** uma cidade que o pequeno barbeiro para raspar** [a população de]
   seu vilarejo num domingo de manhã
Ruínas em vinte quatro horas
até mesmo o tintureiro morre assim
Como você espera que nós fiquemos de luto.



Agosto, 1940, Jurançon.


Poema do livro "La Pluie et le Beau Temps" [A chuve e o tempo bom]


Notas da tradutora:

1. A noite de Saint Bartelemy (24 de agosto de 1572) foi uma das datas da guerra religiosa (Reforma e Contrarreforma), a de um massacre de protestantes a mando dos reis da França, estes católicos.

2. Festa da Federação, onde comemora-se a Revolução Francesa. 

3. L'Année Terrible (1871) é um poema de Victor Hugo, onde ele comenta um terrível ano para a França, ano da guerra contra a Prússia e de uma guerra cívil em Paris, a Comuna de Paris.

4. Semana de 40 horas trabalhistas (na época do poema essa era a carga horária oficial da legislação na França).

5. Quatro quintas do mês: no sistema escolar francês, até 1972, as quintas-feiras eram dias sem aula; hoje esse dia é a quarta-feira.


* "Sans rime ni raison": expressão popular que significa falar/fazer/ser uma coisa incompreensível, sem sentido.

** "Raser" ["barbear" ou "depilar"] em francês é um verbo que serve também para dizer "arrasar" uma cidade (invadir, saquear e queimar).