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samedi 11 février 2017

Poème « Demain » de Robert Desnos



   Robert Desnos (1900-1945) poeta e importante participante da Resistência Francesa.
    Poeta surrealista e intelectual, contra-cultura e combatente, sensível e apaixonado pela liberdade. Foi preso pela Gestapo, deportado para um campo de concentração e, infelizmente, morreu de tifo - como muitos outros deportados - pouco tempo depois da derrota alemã.







Demain


Âgé de cent mille ans, j’aurais encor la force
De t’attendre, ô demain pressenti par l’espoir.
Le temps, vieillard souffrant de multiples entorses,
Peut gémir : Le matin est neuf, neuf est le soir.

Mais depuis trop de mois nous vivons à la veille,
Nous veillons, nous gardons la lumière et le feu,
Nous parlons à voix basse et nous tendons l’oreille
À maint bruit vite éteint et perdu comme au jeu.

Or, du fond de la nuit, nous témoignons encore
De la splendeur du jour et de tous ses présents.
Si nous ne dormons pas c’est pour guetter l’aurore
Qui prouvera qu’enfin nous vivons au présent.


Robert Desnos, 1942




Tradução livre de / traduction libre de Priscila Junglos


Amanhã 

Com cem mil anos, eu teria ainda a força
De te esperar, ó amanhã pressentido pela esperança.
O tempo, velhote sofrendo de múltiplas entorses,
Pode gemer: a manhã é nova, nova é a noite.

Mas há tempo demais nós vivemos na véspera,
Nós velamos, nós escondemos a luz e o fogo,
Nós falamos baixinho e ficamos a escuta
de muitos barulhos rapidamente extintos e perdidos como no jogo.

Entretanto, do fundo da noite, nos testemunhamos ainda
O esplendor do dia e de todos seus presentes.*
Se nós não dormimos, é para espreitar a aurora
Que provará que enfim nós vivemos no presente.



Robert Desnos, 1942



Nota da tradutora: presentes (présents) significa "estar presente" (e não "presente" no sentido de presentear - que é "faire de cadeau").